A Outra Cidade

Texto do Encarte

Este certamente não é o trabalho poético-musical mais importante realizado pela nossa geração até aqui. O fato de ter surgido de um movimento coletivo de pessoas de áreas e formação muito diferentes em torno de interesses comuns como a música popular, a música erudita, a eletrônica, a poesia, o video, a fotografia e as artes plásticas numa era de individualismos exarcebados e intolerância globalizada; além de ser um produto independente realizado com toda liberdade criativa por um grupo de pessoas que, entre outras peculiaridades do destino, nasceram e passaram a primeira infância durante os anos duros do do regime militar, não o torna por si mais consistente que tantos outros com características semelhantes realizados em várias outras cidades do país.

Acrescente-se a isso o fato de que tudo se deu em Belo Horizonte, cidade sempre esteve fora do circuito oficial, sitiada num estado que, com certa dificuldade, carrega o fardo pesado de sua bagagem histórico-cultural assombrando e inibindo a atuação de seus jovens criadores. A verdade é que em nenhum momento tivemos a pretensão de realizar algo inovador, revolucionário, apenas reprocessamos todas as nossas influências e referências já bastante gastas, diga-se de passagem, e chegamos à conclusão de que nossas canções não passam de fragmentos residuais de tudo aquilo que ouvimos e absorvemos durante nossos anos de formação.

Então, sob um certo aspecto, estamos reciclando todo o residual daquilo que a indústria cultural pôs a nossa disposição/nos impôs. Esse lixo cultural é a matéria protéica com que alimentamos essas canções. Esperamos, por fim, que sirva de alimento para outros esfomeados.

Andante
Xote Polaco
Em diante
Intuição
Perto daqui
Mulher do Norte
O Chamador
Santo Forte
Mira
Morrer no Mar
O Mergulhador
Monotonia Gris
A Flor de Cal
Madeixas
A Volta Barroca
Carpe Diem
Atemporal

Ficha Técnica

Produção musical: Kristoff Silva, Makely Ka,
Pablo Castro, Avelar Jr e Lucas Miranda
Direção musical: Kristoff Silva, Pablo Castro e Avelar Jr.
Direção Artística: Makely Ka
Orquestração: Avelar Jr.
Produção Executiva: Makely Ka, Kristoff Silva e Patrícia Tavares
Fotos: Helena Leão
Projeto Gráfico: Chei
Desenho: Marcelino Peixoto
Texto: Makely Ka
Gravado entre agosto de 2002 e outubro de 2003 em BH nos Estúdios Tupatoo , Murilo Corrêa e Via Sonora
Técnicos de gravação: João Moreira e Guilherme Castro (Tupatoo), Murilo Corrêa , Thiago Corrêa e Demerval “Dedé” Filho (Via Sonora).
Mixado no estúdio Tupatoo por: Guilherme Castroo, João Moreira, Kristoff, Pablo, Makely e Avelar Jr.
Masterizado no estúdio Via Sonora por Demerval “Dedé” Filho
Remixado e remasterizado por Guilherme Castro em agosto de 2005

O que já disseram

Na Tradição da Vanguarda

Jornal Estado de Minas, 3 de fevereiro de 2004

por Jorge Fernando dos Santos

De Ary Barroso ao Skank,com parada obrigatória na estação do Clube da Esquina, os mineiros sempre se destacaram na MPB. No entanto, é preciso garimpar fundo nos veios sonorous das Minas Gerais para descobrir que a história não parou por aí. Um exemplo do potencial inovador das novas gerações é o CD A Outra Cidade. Independente, como a maioria dos bons discos hoje produzidos no País, a bolachinha dialoga com as vanguardas, mantendo um pé na tradição e outro na pós-modernidade.

As músicas são de Pablo Castro, Makely Ka, Luiz Henrique Garcia e Kristoff Silva, um quarteto da pesada que se reveza nas parcerias, com a leveza performática daqueles que sabem como é bom tocar um instrumento. Além deles, a produção artística conta com os músicos Lucas Miranda e Avelar Jr. São nada menos que 17 canções, cada uma com sua própria atmosfera. Mas vale destacar, por exemplo, Em Diante (letra, música e a linda voz de Kristoff Silva) e Intuição (do quarteto citado, na voz doce e forte de Alda Rezende em dueto com Kristoff). Uma lembra o melhor de José Miguel Wisnik e a outra dialoga com o som mais contemporâneo de Chico Buarque.

Também merecem registro Mulher do Norte, O Chamador, Morrer no Mar e Mira, retrato sonoro do submundo do sexo. Resumindo, o repertório está acima de tudo o que vem sendo veiculado pela mídia e as participações especiais não poderiam ser mais apropriadas. Não bastasse a bela voz dos compositores e a já citada Alda Rezende, o time também reúne Marina Machado e Regina Spósito, num reencontro admirável; Titane, em excelente performance (sem abusar dos agudos); Juliana Perdigão; Rosa Souki, Leopoldina e Maisa Moura; Sérgio Pererê (do grupo de percussão Tambolelê); Patrícia Ahmaral e Paula Santoro (num encontro antológico com o trio Amaranto). Cada música é uma viagem, com arranjos suaves e inovadores que, misturam cordas, percussão e eletrônica, lembrando às vezes George Martin e a última fase dos Beatles.

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A Outra Cidade

Jornal Estado de Minas, 17 de novembro de 2004

por Chico Amaral

Projeto de Pablo Castro, Kristoff Silva, Makely Ka, Avelar Jr. e Lucas Miranda, pelo que entendi do encarte. Jovens artistas põem a mão na massa da MPB, contrariando os cadernos culturais aculturados. Em todas as cidades brasileiras, além dos desastres e imbecilidades de sempre, existe, sim, um público que se interessa por roda de capoeira, percussão, eletrônica, choro, forró, samba, reggae, Chico Buarque, entre tudo o mais. Cada espaço, cada bairro, cria a sua onda. Há curiosidade e busca de informação. O grupo Los Hermanos é um dos que bem representam o espírito desses jovens antenados. Maria Rita, é claro. Marisa Monte também. Chico Science, com sua mistura irresistível de maracatu + jimi hendrix + rap/repente + papo cibernético, foi/é outro. Evoé, jovens à vista, é a saudação final de Chico Buarque na canção Paratodos. Estes músicos e poetas do disco A outra cidade estão, sem nenhuma dúvida, entre os antevistos pelo compositor. Compõem, tocam e cantam bem, arranjam e gravam com segurança e clareza.

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Sobre a Outra Nova Cidade

Publicado no Overmundo em 15/2/2011

por César Lacerda

Encabeçado por três cancionistas (Kristoff Silva, Makely Ka e Pablo Castro) e com a participação de mais de quarenta músicos da região, o disco pretendia, através do encontro provocado na cidade pela incidência de uma fértil geração de novos artistas interessados numa produção contemporânea de arte e cultura, confluir num projeto fonográfico, mais que um –relevante- conteúdo cancional, mas um gesto que agregasse as necessidades relativas ao escoamento do grande volume de canções produzidas solo e conjuntamente a uma postura político-cultural fruto do desejo de construção de uma nova cidade.

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Os Netos do Clube

Jornal O Globo em 16/10/12

por Leonardo Lichote

“A outra cidade”, disco-manifesto encabeçado por Makely Ka, Pablo Castro e Kristoff Silva lançado em 2002 com participação de mais de 30 músicos. É o gesto que transforma a cidade. É a primeira vez, depois do Clube da Esquina, do pop e do metal dos anos 1990, que surge uma geração comprometida com uma renovação do cenário musical.

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Os Independentes

Folha de São Paulo em 28 de novembro de 2003

por Pedro Alexandre Sanches

Assinado por Kristoff Silva, Makely Ka e Pablo Castro, “A Outra Cidade” é menos um CD dos três que um coletivo da nova música mineira. Ao redor deles, se aninha a face emepebística da atual produção local: Marina Machado, Regina Spósito, Alda Rezende, Flávio Henrique, Juliana Aragão, Titane, Rosa Souki, Maísa Moura etc. O quase-manifesto coletivo é esfriado em texto do CD, em que minimizam seu próprio trabalho poético-musical e afirmam que estão apenas reciclando lixo cultural. O quase-movimento, então, se alterna entre novos achados e velhos antiquários tipo clube da esquina. Ainda submersa, “A Outra Cidade” pode ser procurada em aoutracidade@uai.com.br

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Renovadas Canções

Jornal Estado de Minas, 11 de novembro de 2003

por Ailton Magioli

A geração é outra, mas a riqueza harmônica, melódica e poética é a mesma que marcou as anteriores e acabou se tornando responsável pelo diferencial da música produzida em Minas Gerais.

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