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Música Minas faz ação na maior feira do mundo, promete envio de artistas, mas não cumpre acordo!

Acabo de chegar de uma pequena turnê pela Europa. Tocamos na Lituânia e na Grécia. Por falta de apoio não conseguimos estender mais a viagem para outras regiões da Grécia, assim como atender aos convites para tocar na Polônia, Letônia e Itália.

Na Lituânia, tocamos nas duas principais cidades, Vilnius e Kaunas. Em Vilnius o concerto aconteceu no Mokytoju Namu Kiemelis, um espaço cultural no centro histórico da cidade. Em Kaunas o concerto foi realizado na COMBO (http://www.combo.lt), considerada uma das melhores casas de espetáculo do Leste Europeu, famosa pela maravilhosa acústica e excelência dos equipamentos . Nenhum dos jornalistas e produtores com quem conversei se lembrava de qual o último artista brasileiro havia se apresentado no país. Os dois concertos somaram mais de 600 pessoas. Tivemos promoção em diversas publicações, desde jornais diários, semanais, até revistas mensais como a “Ekonomika Ir Visuomene”, a “BZN Start” e a “National Geographic”. Demos uma entrevista de um quadro inteiro para o programa “Labas Rytas” que possui a maior audiência da rede nacional de TV, a “LRT” (Lithuanian Radio and Television) e fizemos também um programa de uma hora para a rádio Laisvoji Banga, uma das mais populares, em que tocamos várias músicas e falamos sobre o Brasil e Minas Gerais. Foram publicadas ainda, no “The Lithuania Tribune”, uma crítica na qual a jornalista Victoria Leigh diz, entre outras coisas, que nossa música não-convencional é um caminho para se conhecer a língua e a cultura brasileira. Em outra crítica do show, publicada no “15min”, portal mais lido do país, a jornalista Justina Dirsė afirma que o concerto foi a melhor coisa que aconteceu no verão da cidade de Vilnius. A ação pode ser considerada pioneira e estratégica para posicionar a música mineira no leste europeu, um mercado ainda inexplorado.

Além de dois músicos brasileiros que foram comigo, Rodrigo Torino e Rafael Azevedo, toquei com músicos de diferentes países que completaram a formação da minha banda: Antonio Palmisani, um guitarrista italiano; Vasco Oliveira, um baixista português e Viktoras Krasauskas, um baterista lituano.

Na Grécia, fizemos quatro concertos, todos na Ilha de Creta. Dois deles aconteceram em pequenas vilas, Archanes e Pyrgos, no interior da ilha. Atendendo ao convite da “Rádio ERT”, fizemos uma apresentação em apoio à manifestação contra o fechamento da rádio. Foi realizado para funcionários e manifestantes em frente ao prédio da rádio. O show foi transmitido ao vivo pra todo o país e houve retorno imediato de muitas pessoas, inclusive do Brasil, via web, que acompanharam a transmissão.

Integramos a programação do “Summer Arts Festival de Heraklion”, na capital da ilha. O local, chamado Portão de Belém, é um sítio histórico com ruínas do período da ocupação veneziana. Recebemos um público atento e curioso de aproximadamente 400 pessoas. Ao total atingimos diretamente cerca de 800 pessoas durante a temporada na Grécia e tivemos material de promoção divulgado em rádios, TVs, jornais e revistas, além de cartazes e panfletos distribuídos pela cidade. Na Grécia, contei com a participação especial de quatro músicos locais, Kostas Skoulas na lira cretense, Dimitris Vasmaris no bouzouki, Giorgios Kontogiannis no oud e no baglamas e Elina Skarpathioti na voz, que se apresentaram comigo e com meus músicos em duas ocasiões diferentes. Iniciamos também uma parceria musical, que vai estar registrada no meu próximo álbum.

Para além das apresentações, iniciamos na Grécia um diálogo para a realização de um intercâmbio cultural entre os governos da Região de Creta e de Minas Gerais. Como representante do Conselho Estadual de Cultura, levei uma carta de intenção da Secretaria de Estado da Cultura para o presidente do Comitê de Cultura da Ilha de Creta e iniciamos as conversas que devem seguir agora entre os representantes de ambos os governos.

Realizei essas ações sem qualquer apoio do governo do estado ou do governo federal. Minha passagem e a dos meus músicos foi paga com recursos próprios, incluindo os cachês recebidos nas apresentações. Entrei nos editais de intercâmbio do MinC e do Programa Música Minas (Saldo Remanescente julho/2013), sem sucesso.

Em 2012 havia sido selecionado no Edital de Circulação Internacional (http://musicaminas.com/plus/modulos/noticias/ler.php?cdnoticia=44) e tocamos no Noite Mineira realizada na WOMEX. Os convites para os concertos deste ano foram resultado daquela apresentação.

Na Consulta Pública deste Edital de Circulação Internacional, realizada no dia 23 de maio de 2012, o depoimento dos representantes do Fórum da Música firmava o compromisso em dar continuidade às ações realizadas nas feiras. Afinal, parece insensato realizar um grande investimento numa ação internacional e depois negar apoio aos artistas contratados em decorrência dessa ação. Não é o que pensa o Fórum da Música.

O produtor lituano Zilvinas Svarplys conta que representantes do Programa Música Minas afirmaram, durante a WOMEX 2012 ocorrida em Tessaloniki entre 17 e 21 de outubro – onde toquei ano passado juntamente com o Graveola e o Thiago Delegado, que bastava escolher um dos artistas que estavam se apresentando na ocasião, ou mesmo um da coletânea, que eles davam “garantia” de enviar esse artista.

Esse é o discurso dos representantes do Música Minas nas feiras internacionais. Nessa comitiva que representava o Música Minas em Tessaloniki havia um integrante que não prestou contas de viagem realizada no ano anterior, em 2011. Havia ainda outro integrante que recebeu duplamente para uma mesma viagem internacional, também em 2011.

Além do produtor lituano, houve relatos semelhantes dos próprios artistas que participaram de ações internacionais em feiras, como Luiz Gabriel Lopes (Graveola) também na WOMEX. Eu e os músicos que me acompanhavam ouvimos mais de uma vez, de mais de um representante, que o Programa Música Minas garantia o pagamento das passagens e o envio do artista escolhido para qualquer lugar do mundo. Não é mencionado nas feiras que há uma curadoria e que o pedido de passagens pode ser negado. Assim, o contratante se sente incentivado a investir num nome desconhecido, já que está subentendido que o artista tem esse subsídio do Programa que o apresentou. Acreditem, isso gera muitos constrangimentos.

Diante disso, me pergunto qual o sentido de enviar representantes para feiras, se o discurso não se sustenta? Qual o sentido de investir tanto dinheiro numa ação internacional como a realizada ano passado na WOMEX se não há planos para a continuidade? Minas propaga que faz a maior ação internacional da música, mas não honra os compromissos firmados nos encontros.

O parecer da curadoria do Edital de Intercâmbio do Programa Música Minas diz o seguinte sobre a não aprovação do meu pedido: “Custo incompatível com disponibilidade de recursos, falta de palcos mais relevantes e baixa perspectiva de que se constitua um circuito duradouro, para outros artistas”. Solicitei quatro passagens, o orçamento total ficou em torno de R$ 16.000,00. O programa tinha um total de R$ 50.000,00 disponíveis para esse edital. Foram aprovadas propostas para outras viagens internacionais e que não eram continuidade de nenhuma ação do programa.

O Programa Música Minas participou de ações na WOMEX por cinco anos seguidos. Ano passado foi a primeira vez que artistas mineiros tocaram na programação. A seleção dos artistas foi feita por curadores da própria feira. Todavia, na hora de desdobrar, de expandir, o programa se auto-sabota, inviabilizando as viagens e provocando constrangimentos entre músicos e contratantes internacionais.

Afinal, o programa pretende projetar os artistas ou a si próprio?

A conclusão a que chego, com pesar, é que o Música Minas se transformou numa fraude. Não por acaso neste momento está sendo investigado pelo Ministério Público e pela Ouvidoria do Governo do Estado de Minas Gerais por denúncias de corrupção e mal-uso do dinheiro público.

Voltei com uma carta de intenção do governo da Região de Creta propondo a realização de um intercâmbio cultural com o estado de Minas Gerais e outra do produtor lituano sobre as promessas do Música Minas e sua intenção de estabelecer pareceria com produtores mineiros para levar outros artistas para o Leste Europeu. Gostaria de saber se essa intenção expressa de intercâmbio, apresentada na minha proposta, não representa “perspectiva de que se constitua um circuito duradouro, para outros artistas”. Gostaria ainda de solicitar aos curadores anônimos do programa – já não é possível identificar o nome de nenhum deles no site – que usaram esse argumento para reprovar minha proposta, a indicação de outros concertos realizados anteriormente com apoio do programa que criaram essa perspectiva de circuito duradouro.

O parecer da curadoria é extremamente descabido, a ponto de me levar a crer que possa ter sido uma retaliação devido aos meus questionamentos públicos ao Fórum da Música. Como estamos numa democracia, com o direito de liberdade de expressão garantido na Constituição Federal, e os processos envolvendo dinheiro público devem prezar pela transparência, me parece inadmissível que o edital de intercâmbio do Programa Música Minas seja influenciado por questões externas às exigências do próprio edital, que foram, como exposto acima, cumpridas rigorosamente, já com todas as perspectivas de desdobramento, apresentadas na proposta original. Acredito, sem desmerecer outras propostas, mas por ter acompanhado o Programa de perto, que a minha proposta é mais relevante e reuniu mais perspectivas de desdobramentos do que a maioria de projetos aprovados nesses anos todos do programa.

Minha intenção com este depoimento não é rever o resultado da curadoria e recuperar o dinheiro investido, mas alertar para o fato de que os recursos do programa estão sendo usados de forma, a meu ver, pouco eficiente no que se trata de ações a médio e longo prazo. As ações internacionais devem fazer parte de uma política de continuidade, caso contrário não vale a pena o investimento. A sustentabilidade de uma carreira internacional, que projeta aqui seu reflexo também, depende de uma ação minimamente continuada a partir de critérios objetivos que levem em conta a capacidade de articulação, os desdobramentos, o estabelecimento de vínculos sólidos ou promissores.

Seguem aqui os links para algumas matérias com críticas e fotos publicadas sobre os shows:

http://www.15min.lt/zmones/naujiena/pramogos/muzika/brazilijos-muzikos-zvaigzdes-makely-ka-kuryba-lyg-astronauto-atliekama-ciabuviu-muzika-28-356386

http://www.lithuaniatribune.com/47279/makely-ka-at-the-forefront-of-the-new-generation-of-brazilian-music-201347279/

http://www.15min.lt/zmones/galerija/makely-ka-koncerte-mitologijos-ikvepta-ir-ironijos-kupina-muzika-42605?article=358032

http://www.cretalive.gr/culture/view/sunaulia-me-krhtikh-kai-brazilianikh-mousikh/99002

http://www.ekriktiko.gr/index.php/archives/390814
Seguem os links com entrevistas para jornais, rádios e TVs:

http://www.youtube.com/watch?v=5Jm4CqamF-c&feature=youtu.be

http://www.15min.lt/zmones/naujiena/pramogos/muzika/brazilijos-muzikos-zvaigzdes-makely-ka-kuryba-lyg-astronauto-atliekama-ciabuviu-muzika-28-356386

http://www.eraheraklion.tk

Postado em 28/08/2013 Blog!

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Sobre o autor

Makely Ka (Valença do Piauí, 1975) é um poeta cantor, instrumentista, produtor cultural e compositor brasileiro. Makely é poeta, compositor e agitador cultural. Atuando em diversas áreas como a música, a poesia e o vídeo. Incorpora à sua produção artística um componente crítico e reflexivo. Autodidata, desenvolveu uma poética musical própria, amalgamando elementos da trova e do aboio de herança ibérica às novas linguagens sonoras urbanas como o rap, do despojamento da poesia marginal ao rigor formal da poesia concreta.

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