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Voltei Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço…

A música que se faz em Minas hoje!
Detectado abalo rítmico nas montanhas de Minas. Movimento sísmico de tambores, passos e motores. Correm os rumores, os humores variam. Vários timbres. Agudos gravíssimos ávidos por aplausos; pausa. De novo tambores, caixas de folia, mais graxa nas polias das cortinas dos teatros, tablados, nos museus. Praças, ruas e avenidas tomadas por todos os ângulos, pickups, triângulos e bandoneons num groove tecnopunk de repente. Sente só o balanço, saca o desembaraço! Pele, nervos e aço, movimento de membros elásticos destacados do tronco, pernas e braços. Um corpo nu solto no espaço. Soltos os cachorros, libertos os demônios, um curto-circuito dos neurônios. Tudo certo. Mantenha um olho sonhando o outro desperto, o corpo fechado e o capacete aberto pra sentir o vento no rosto ladeira abaixo. Pausa: melodias maliciosas entre palcos e altares, nas esquinas e nos bares, marimbas e trombones, trovões e melotrons, sociedades ímpares, díspares, complementares. Harmonia suspensa no trapézio. Calafrio na platéia. Posa de difícil, não repousa. Ondas de som se propagam no ar e cruzam os mares. Avatares vem ocupar seus lugares.

Cheguei ontem a Pernambuco, depois de mofar quatro horas em Confins. Vim pra Feira Música Brasil, iniciativa do Ministério da Cultura. Trouxe na bagagem, além de CDs, livros e revistas, um DVD coletânea com 25 artistas mineiros, feito numa parceria da SIM (Sociedade Independente da Música) com a TV Minas, para distribuir entre os vários produtores gringos que vieram aqui conhecer a música brasileira. Pra variar não há ninguém de Minas na programação artística da Feira. Pra variar eu vim por minha própria conta e risco e tudo foi feito na marra. Mas claro que pra variar ainda teve gente que achou defeito, que o texto poderia ser mais explicativo, que a imagem poderia ter ficado melhor. Enfim, gente pra reclamar não vai faltar. Pra fazer já são outros quinhentos! O evento é hoje a maior vitrine da nossa música pro mundo. Mas não adianta vir despreparado. Nem adianta vir sozinho. Quem veio aqui contatar artistas quer recortes, quer visualizar uma cena, como a pernambucana por exemplo. Não adianta eu ou outro artista sozinho tentar furar o bloqueio. Cada um com seu CD debaixo do braço. Enquanto não houver essa consciência vamos continuar patinando sem sair do lugar, invisíveis.

E no Encontro do Fórum Nacional da Música que fizemos aqui ontem decidimos pela criação da Federação Nacional, reunindo todas as entidades representativas da cadeia produtiva da música de todo o país! Aguardem notícias.

Mas eu cheguei no dia do centenário do Frevo!

A expressão apareceu pela primeira vez há exatamente cem anos atrás e agora é reconhecida como patrimônio imaterial do país. O frevo é um gênero musical sofisticado, marcado por síncopas e acompanhado de uma coreografia complexa, que exige do bailarino, assim como do músico, uma técnica exímia. Eu fico impressionado com a força e elasticidade das passistas! Além disso há várias subdivisões no gênero, cada uma com suas características e peculiaridades. Há o Frevo de Rua (sem letra e ideal para ser dançado), o Frevo Canção (semelhante às marchinhas carnavalescas alternando uma introdução instrumental e uma parte cantada), o Frevo de Bloco (lamento choroso tocado por orquestras de pau-e-corda com melodias em escala menor). Ainda estou tentando entender e distinguir cada uma delas. E ensaiando uns passos de sua complicada coreografia, como o bêbado (movimento do corpo para frente e para trás), o banho de mar (tronco inclinado para frente e os braços fazendo uma espécie de nado crawl) a tesoura (passo cruzado com pequenos deslocamentos à direita e à esquerda) e o abre-alas (movimento do corpo para frente abrindo caminho com os braços e rotação lateral do tronco). Não aconselho a ninguém tentar fazer sozinho em casa!

E já fiz até letra de frevo:

Frevendo

Eu vi o frevo ferver
Na terça o povo pira na praça primeira
E vi a vela acender
O Batata descer na alvorada final

Não vale pela TV
Tem de seguir a banda a pé na ladeira
E quem quiser se atrever
Retetel pra você dar o seu salto mortal

Vá na mão da maré
E desça até a lama do manguezal
Dê o seu voto de fé
Que inda dá pra fazer a promessa anual

Mesmo que já não der
Talvez até tomar um banho de sal
Seja o que deus quiser
Pois aqui quem vier que faça o seu carnaval

Segura a alfaia no toque
Baque virado dá rock
Mas tem também Nazaré
Com o som do baque solto do bumbo
Tocando maracatu nação rural

Cantador de coco tem na feira de Caruaru
Tudo isso é bom como ouvir
E ver o vento no canavial

Postado em 10/02/2007 Blog!

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Sobre o autor

Makely Ka (Valença do Piauí, 1975) é um poeta cantor, instrumentista, produtor cultural e compositor brasileiro. Makely é poeta, compositor e agitador cultural. Atuando em diversas áreas como a música, a poesia e o vídeo. Incorpora à sua produção artística um componente crítico e reflexivo. Autodidata, desenvolveu uma poética musical própria, amalgamando elementos da trova e do aboio de herança ibérica às novas linguagens sonoras urbanas como o rap, do despojamento da poesia marginal ao rigor formal da poesia concreta.

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