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Os Novos Mineiros

Publicado na Carta Capital de 20 de fevereiro de 2008

Por Pedro Alexandre Sanches

Situada em algum ponto indeterminado entre a bossa nova carioca, o clube da esquina mineiro e a vanguarda pop-erudita paulista, uma nova geração musical consolida-se em Minas Gerais, ao redor de cantores/compositores/músicos como Kristoff Silva e Makely Ka.


Kristoff apresenta Em Pé no Porto, que logo de início aborda poeticamente a nostalgia do mar que Minas não possui (Você pode morrer de sede tanto no mar/ quanto no deserto, relativiza Mar Deserto). O CD parece se distanciar dos círculos de influência de Milton Nascimento à mesma medida que se declara apaixonado pela retórica concretista de artistas radicados em São Paulo, como Tom Zé, Luiz Tatit e Arrigo Barnabé, homenageados em São.


Algo aparecido acontece em Autófago, de seu parceiro Makely Ka, embora aqui o rock (paulista, em larga medida) apareça de modo mais demarcado. O vínculo com a MPB culta, às vezes excessivamente elitizada ao gosto paulista, sobressai nas letras simbolistas, repletas de imagens.

Num caso como no outro, resultam discos sérios, formalistas, que se beneficiam de certos momentos mais descontraídos e do canto suave e seguro dos artistas. Quando atingidos, esses instantes mais relaxados (e até mesmo “pop”) fazem lembrar a letra reverente de São, composta pelos dois: Essa parceria aproximou o centro da periferia/ o erudito e o popular/ a rua da academia.

Postado em 21/02/2008 Blog!

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Sobre o autor

Makely Ka (Valença do Piauí, 1975) é um poeta cantor, instrumentista, produtor cultural e compositor brasileiro. Makely é poeta, compositor e agitador cultural. Atuando em diversas áreas como a música, a poesia e o vídeo. Incorpora à sua produção artística um componente crítico e reflexivo. Autodidata, desenvolveu uma poética musical própria, amalgamando elementos da trova e do aboio de herança ibérica às novas linguagens sonoras urbanas como o rap, do despojamento da poesia marginal ao rigor formal da poesia concreta.

(21) respostas

  1. Marcos Marinho
    21/02/2008 de 16:14 · Responder

    Vivas e salves!!!

    Afinal não é todo dia que nossos artistas tem divulgação numa revista semanal de circulação nacional e de respeito como a carta capital.

    Mas vamos lá, eu não acho que o trabalho do Makely ou do Kristoff esteja situado em qualquer ponto que seja entre a bossa nova carioca e o clube da esquina. Acho que eles estão mais pra vanguarda paulista e para o tropicalismo. Há controvérsias.

    Também não acho que eles sejam formalistas, muito menos elitistas.

    Seja como for o Pedro é um grande crítico, um dos melhores que temos, e devemos respeitar sua opinião.

    Mais uma coisa, não deixa de ser irônico que os novos mineiros não tenham nascido em Minas.

  2. E.R.L.
    22/02/2008 de 10:55 · Responder

    fio… quero ouvir o carnaval.. mas que preguiça de loggar e me inscrever em mais um negócio… eu nem sei mais onde tô nessa net.

    mas saudade aqui é o bicho.

  3. Patris
    22/02/2008 de 15:59 · Responder

    Também não acho que eles sejam formalistas, muito menos elitistas.
    [2]

    Mas as pessoas falam de um ponto da qual olham né?

    bjks

  4. Anderson Ribeiro
    22/02/2008 de 23:56 · Responder

    Ah, falo pelo Cd Autófago. Se formos situar no mapa, estaria mais próximo a Sampa, mas acho que a poesia de Makely é muito mais ampla (mesmo, que Caê diga que “São Paulo é como o mundo todo”) não há limites para Autófago.

    Ah, Makely. Moro em Aracaju/SE. Você (e o Ademir Assunção) me concedeu uma mini-entrevista sobre a Câmara Setorial do Livro e da Literatura (via e-mail) para uma matéria que estava escrevendo para o Itaú Cultural. Daí conhecia sua poesia e resolvi conhecer tb sua música e não me arrependi. Adoro Autófago.

  5. makely
    23/02/2008 de 02:35 · Responder

    Meu caro Marcos, na verdade eu nunca me preocupei muito com a recepção do meu trabalho e me coloco mais confortavelmente entre a surpresa e a curiosidade de tentar entender as conexões que o crítico fez do que indignado por não me identificar com o que ele disse.

    Seja como for eu adoro Tom Zé, Arrigo e Tatit. Será que eles também são formalistas/elitistas?

    Minha tendência é concordar com Patris, mas confesso que me interessa saber qual é esse ponto do qual alguns (não todos) críticos nos olham! (será que eles nos olham? será que mesmo quando olham eles nos enxergam?)

    Estrela querida, você não precisa se cadastrar no imeem.com para ouvir o samba, basta clicar no ícone do play e esperar carregar na própria página. Acabei de testar e está funcionando!

    Saudade é um cachorro doido.

    Anderson, fico lisonjeado com o elogio e agradecido pela visita. Volte sempre! Sabe que eu não me lembrava dessa mini-entrevista? Ela foi publicada no site do Itaú?

    Abraços a todos

  6. renato villaça
    23/02/2008 de 10:37 · Responder

    talvez haja sim algo de “elitizado” nos dois trabalhos.

    menos no discurso e na sonoridade, mais na quase ausência de acesso ao público.

    os críticos já conhecem.
    agora só falta o povo.
    cadê o povo, minha gente?

  7. makely
    23/02/2008 de 15:35 · Responder

    Renato, poderia ser tão simplista quanto você e dizer que não estamos dispostos a pagar jabá para ficarmos conhecidos! Nesse sentido posso identificar um certo populismo no seu discurso: não estar na boca do povo seria uma opção elitista do artista!

    Mas talvez seja estratégico fazer com que a crítica conheça e, a partir daí, uma parcela segmentada do público que me interessa seja atingido. Sei que pode levar mais tempo; que não é o procedimento padrão da indústria; que não vamos ficar ricos fazendo isso, mas enfim, somos meros operários da contra-indústria. Queremos só pagar nosso aluguel e poder continuar fazendo música, que é o que a gente gosta de fazer!

    Abraços

  8. luma
    23/02/2008 de 15:53 · Responder

    Makely, parabéns!!
    Tudo resultado de suas conquistas diárias. Adiante!! Beijus

  9. renato villaça
    24/02/2008 de 09:37 · Responder

    não é uma questão de simplismo.
    muito menos populismo.
    apenas uma pequena dose de realismo.

    quem não tem uma raiz forte onde mora não pode colher bons frutos do lado de fora.

    os críticos só vão entender o que significam esses discos quando perceberem seus significados nos devidos contextos em que se inserem. e pra isso o que conta mesmo é o trabalho de formiguinha. de formar público. de dar a cara a tapa não apenas para os “entendidos”, mas para as pessoas comuns de carne e osso.

    nem eu nem você somos operários de coisa alguma. somos burgueses. e ninguém aqui paga mais aluguel.

    nunca pretendi ficar rico com coisa alguma. apenas que nossos trabalhos chegassem nas pessoas. o termo “parcela segmentada do público”, isto sim, me parece um discurso bastante elitista.

    pense nisso.

  10. makely
    24/02/2008 de 14:11 · Responder

    Renato, parcela segmentada de público é foco, é direcionamento, é estratégia. Sei que meu trabalho tem um público específico e vou de encontro a ele. Se você tivesse ido à nossa apresentação no Francisco Nunes, recentemente, entenderia o que quero dizer. A identificação com o trabalho é que fez o público sair de casa debaixo de chuva e pagar ingresso. A mesma identificação que fez o público lotar o teatro da biblioteca no lançamento do disco. Não se preocupe que a raiz tá bem plantada!

    Agora deixa eu te dizer uma coisa, vim lá do sertão do Piauí, que é uma dos estados mais pobres do País e muitos dos meus primos foram pra São Paulo cortar cana. Eu não fui mas trabalho desde os doze anos pra me manter, sempre estudei em escola pública e hoje pago minhas contas com meu trabalho artístico, que é de formiguinha, de operário sim, embora sem patrão.

    Quem vê de fora só enxerga show, disco, livro, produto acabado, mas há um trabalho de intermitente de formação de público em oficinas, debates e palestras, em projetos sociais, em ações políticas, tudo isso pode parecer invisível mas ajuda a engrossar o caldo.

    Por isso, pense bem!

  11. renato villaça
    24/02/2008 de 19:15 · Responder

    falou, joão do vale!

    pena que a apresentação do francisco nunes foi a última, né… rarara!!!

    makely.

    você não entende nada de estratégia. ainda bem. disso quem entende são os marketeiros. deixa isso pra eles! nós mal damos conta de agir por táticas.

    1 abraço.

  12. Dani Morreale
    26/02/2008 de 16:10 · Responder

    Renato, você não joga pedras em árvores sem frutos, ou joga?!

    Admiro, amo e idolatro seu trabalho artístico, mas você encara as coisas mais importantes de maneira tão passional que passa a não enxergar os cantos que deveria também penetrar e firmar talento. (a razão dá-se…)

    Acho engraçado como consegue bancar o dono de uma estética nova, cheia de formulários próprios, só que sem atitude de interagir-se nem que seja numa parcela minima de pessoas que poderiam/devem te perceber como o artista que é.

    Pra mim, tudo que diz não passa de discurso falido, de que o artista não precisa da mídia para se divulgar. Esse teor de ironia só mostra frustração e nada mais. Parece ser um saudosista de uma era de revolução que não existe e que nunca viveu.

    Cá pra nós… Na base das desordens a gente deve saber achar a boa ordem e se manifestar sim. E saber respeitar o trabalho de cada um, ir se peneirando conforme vai penetrando. Isso o Makley sabe fazer.

    Triste é você ter talento e por questão de vaidade jogar tudo a perder no olho do furacão.

  13. renato villaça
    26/02/2008 de 17:26 · Responder

    dani morreale

    eu não joguei pedra em ninguém. esse debate eletrônico que está aí em cima é bastante saudável, inclusive para que o makely reflita sobre sua trajetória e nas escolhas que faz.

    amigo que só elogia e acha tudo muito bonitinho não é amigo. é puxa-saco. e desses está cheio por aí.

    não me acho dono de estética nova nenhuma e sempre detestei formulários.

    nunca critiquei o o senso de oportunidade (não confundir com oportunismo, que alguns aí têm de sobra…) do makely. e é justamente por isso que acho que ele deveria se esforçar mais por conta própria e cavar espaços menos “nobres” e dependentes da burocracia que vicia e comanda o mercado cultural desta cidade. só isso.

    lembre-se que todo esse pessoal aí que agora pra vc é uma referência apareceu num evento sem apoio de lei nenhuma, organizado pelos próprios músicos – o reciclo geral – do qual o próprio makely tomou frente.

    se o debate incomoda tanto até nas páginas dos outros, vou pensar duas vezes antes de postar de novo. desculpe.

    saudações.

  14. renato villaça
    26/02/2008 de 17:30 · Responder

    minina abusada!!!

  15. renato villaça
    27/02/2008 de 08:35 · Responder

    ah…

    e se vc não se lembra, quem produziu autófago fui eu. as críticas me beneficiam. mas não bastam. só isso.

  16. .ludmila ribeiro.
    28/02/2008 de 14:49 · Responder

    entre rótulos, padrões e experimentações a gente vai tateando nesse novo mercado. o processo é lento e vem revelando que entre uma e outra opção, ambas devem ser consideradas. talvez… tá todo mundo no meio de tudo e o horizonte ainda um pouco indefinido, ainda mais no meio de tanta montanha!
    Então, vamos às discussões! achei saudável o que rolou aqui, sugere caminhos. mas também vale o filtro para os raios e trovões do anarquista moderno-contemporâneo e do domador de tempestades. né?
    :p
    avante!

  17. Dani
    29/02/2008 de 11:16 · Responder

    “anarquista moderno-contemporâneo e do domador de tempestades”

    rarararara!!!!!!

    boa-boa.

  18. Guilherme Castro
    01/03/2008 de 18:11 · Responder

    Eu sei lá… que discussão meio doida…
    Acho que isso só mostra que viver de música no Brasil e, sobretudo em BH, é muito complexo e tem se tornado, ao longo dos últimos anos, muito penoso. Sobre essa questão de formalismos e elitismos, acho que, como vários outros “ismos”, esses conceitos caem em um vazio de significado, sobretudo em um contexto cultural. Afinal, eu não sei o que é, esteticamente, uma coisa elitista ou formalista. Ou ainda, se estes são parâmetros reais pelos quais se deve julgar uma obra. Para mim, há outros parâmetros mais apropriados para tal tarefa, tais como: beleza; coerência entre proposta e a realização desta; cuidado técnico; ressonância entre lugar, época e obra; originalidade; entre outros parâmetros, por assim dizer, mais artísticos. Em uma época onde parece que parâmetros ecônomicos servem para toda sorte de julgamento de valores, acho meio estranho – e nesse ponto concordo com o Makely – que tais termos aflorem como quesitos para julgamento de um trabalho, sobretudo em relação a trabalhos (como estes do Makely e do Kris) onde a força poética e estética são tão marcantes e pungentes. Também acho, assim como o Renato, que a tarefa de comercialização, promoção, marketing e atividades afins devem ser delegadas e feitas por pessoas especializadas nisso. Porém, é muito difícil de achar, ainda mais hoje em dia, profissionais com tempo, competência e visão de mais longo prazo que queiram executar tais tarefas, em prol de uma melhoria geral do panorama cultural. E não falo de militantes formiguinhas e/ou operários (como nós todos) que se dispoem a agarrar e suprir estas necessidades. Falo de profissionais com um maior poder de efetividade como, por exemplo, profissionais de grandes veículos de comunicação, administradores, empresários, publicitários e vários outros que têm se mostrado mais preocupados com uma questão financeira ou algo politicamente correto e mais chamativo. Ou ainda, fazem um pré-julgamento altamente subjetivo sobre o que deve ser veiculado ou sobre o que vende (como se alguem soubesse algo disso). Sei que, para mim, objetividade em questões de juízo crítico é sempre algo complicado, para não dizer impossível. Mas sei também que há outros parâmetros mais nobres para colocar na balança na hora de se formar tal juízo. Bem, tudo isso é só para dizer que, apesar de não concordar com alguma parte das críticas feitas, acho louvável que tal personagem de um importante veículo tenha se dignado a escrever sobre algo que está acontecendo aqui em Minas e se enveredado pelo difícil caminho de dar uma chance a quem não tem esquemas pré-moldados e mercadológicos. Viva o P.A.S, viva o Makely, viva o Kris, o Pablo, o Villaça, o SOMBA, o Falcatrua e toda uma nova geração de artistas que se mobilizam para fazer algo, com ou sem apoio público (melhor com), para melhorar as condições culturais e de trabalho. Tenho dito!

  19. renato villaça
    02/03/2008 de 08:01 · Responder

    boa guilhermão.

    só um adendo na sua interpretação da minha crítica. não acho que os trabalhos devem ser administrados e promovidos por profissionais de marketing, publicitários e gente ligada aos grandes veículos.

    Pelo contrário. Acho que estamos aqui justamente para contribuir para a construção de meios alternativos de chegar ao público furando esse bloqueio. da produção à distribuição e promoção.

    E isso deve ser feito a partir de um raciocínio qualitativamente diferente da lógica capitalista caduca e anacrônica. por isso me incomoda muito termos como “marketing”, “estratégia”, “Segmento do público”, que o makely às vezes abusa e acha que sabe usar muito bem (mas graças a deus não sabe…) que designam elementos dessa lógica.

    Um abraço.

  20. renato villaça
    02/03/2008 de 08:04 · Responder

    De relâmpagos, Dani.
    De relâmpagos…

  21. makely
    02/03/2008 de 20:04 · Responder

    Fico feliz que o debate tenha rendido, essa é a idéia de manter um blogue com espaço para comentários.

    Talvez tenha faltado dizer que eu vislumbro para os próximos três anos um salto de profissionalização e exposição nacional e internacional da cena local.

    O magma está prestes a romper o sub-solo. Fica aqui o registro, para daqui a um tempo voltarmos pra ver o que de fato aconteceu.

    Mais notícias (e matérias polêmicas em breve).

    Abraços

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