Belo Horizonte, segunda, 20 de Novembro de 2006
Ailton Magioli
A aula durou uma hora e 20 minutos, com direito a lições de profissionalismo, carisma e muita sedução. Foi o que se viu na apresentação que Wando fez na madrugada de domingo, no Camarim Dance Show, na Pampulha. Acompanhado do fiel maestro-guitarrista Carlinhos Calunga, o cantor exibiu disposição invejável aos 61 anos, levando fãs ao delírio com as famosas provocações e distribuição de flores, maçãs (mordidas na hora, a bem da verdade), toalhinhas (que faz de lencinhos) e, claro, calcinhas. Foram exatas 10, do vermelho ao preto, passando pelo branco, azul e rosa.
O que se vê e ouve é o melhor do repertório do professor Wando, acrescido de sucessos de outros artistas, com destaque para a música pop. A lamentar, apenas, a utilização de bases gravadas em computador, em substituição aos indispensáveis músicos. De Gosto de maçã a Fogo e paixão, com as quais abriu (0h35) e fechou (1h55) a apresentação, passando pela indefectível Moça, o show é um desfile de hits entremeado pelos gritos, às vezes delirantes, das fãs.
No repertório, Hyldon (Na sombra de uma árvore), Agepê (Deixa eu te amar, com a platéia dominada integralmente), Djavan (Meu bem querer), Elba Ramalho (De volta pro aconchego), Lulu Santos (Como uma onda no mar), Carlinhos Brown e Marisa Monte (Amor I love you), além de pout-pourri de canções de Roberto Carlos. A essa altura, ninguém mais resistia. Nem os jovens poetas Makely Ka, Renato Negrão e Bruno Brum (que subiu ao palco, de supetão, para abraçar o ídolo, surpreendendo seguranças e provocando ciúme nas meninas).
Em êxtase, elas recolhiam flores, maçãs, lencinhos e calcinhas que Wando deixa para distribuir, propositalmente, no fim da apresentação. Num dos momentos mais provocativos, o cantor, violão em punho, sentado no banquinho, anuncia “pesquisa sexual”, que termina em um surpreendente “hoje eu vou comer você” cantado em coro.
Problemático em relação à acústica, o Camarim Dance Show precisa de profissionais mais experientes. Que o diga o próprio Wando. Ele próprio orientava o iluminador a acompanhá-lo em cena com o canhão de luz. Recém-inaugurada, a casa da Pampulha vem se juntar às (problemáticas) já existentes, sem nada acrescentar ao pobre cenário do show business mineiro. Como há muito tempo Belo Horizonte não é mais a fazendona limitada pela Avenida do Contorno, que venham outros palcos para exibir a riqueza e diversidade da MPB.