Antelóquio por ocasião das comemorações
Caso estivesse vivo, o poeta Renato Negrão
O indivíduo em questão constitui assim um paradoxo aparentemente insolúvel dentro dos parâmetros pragmáticos da biologia moderna; grande poeta que é e consciente, ele próprio, da importância de seu cadáver no mausoléu da melhor tradição poética em língua portuguesa, sabe que não pode abrir mão disto que alguns vão considerar mera formalidade, vaidade ou capricho, a saber: sua morte incondicional.
Por outro lado, vivo da silva e ainda por cima produzindo como um louco, bradando a cores e ao vivo seus poemas nos ouvidos surdos de seus contemporâneos, o dito cujo sequer pode ser considerado poeta, muito menos um bom poeta. O fato de estar vivo, e o que é ainda pior, em atividade, impossibilita portanto qualquer tentativa de distanciamento crítico, exclui quase que por completo a viabilidade de uma tese acadêmica e enfim, invalida qualquer investimento no sentido de uma avaliação mais objetiva de sua vida e obra.
Fica o vivente dessa forma, por justa causa, ausente de toda e qualquer antologia de poesia dentro do panorama literário atual, devendo contentar-se com uma ou outra nota, ainda que depreciativa, no segundo caderno de algum jornal local de circulação diária.
Já morto, o inconveniente seria continuar escrevendo poemas a esmo. Desnortearia por completo a crítica. Ora, um poeta no final das contas não precisa ter deixado uma obra volumosa para que seja considerada grande. Veja-se por exemplo o caso de um Isidore Ducasse ou de um Georg Trakl. Também não precisa ter sido reconhecido por seus contemporâneos e pode até mesmo ter sido ignorado por várias gerações consecutivas, como um Sousândrade, um Yi Sáng. Pode inclusive ter morrido praticamente inédito, como um Kilkerry, um Fernando Pessoa da vida, mas sobretudo, tem de estar morto. A obra tampouco necessita estar acabada, nem carece coerência interna, unidade temática, e pode também apresentar altos e baixos, seja lá o que esses critérios de avaliação representem nas mais diversas épocas e contextos.
Agora, algo realmente inaceitável é o abandono radical da atividade poética
Ora, se suas atividades pudessem ser consideradas estanques, definitivamente concluídas, poderia se pensar em algum tipo de reconhecimento mórbido
Nesses casos nem adianta um juramento de pés juntos lavrado em cartório, com o poeta dando sua palavra de que nunca mais cometeria um verso sequer, pois sabe-se que esse tipo de gente não merece a menor confiança. Há casos documentados.
Muito bom!
kkkkkkkkkk
adorei!
inclusive o citado Fernando Pessoa tem um livro inteiro dedicado a esta questão, “Sobre gênio e loucura”. Tive a oportunidade de ler um trecho em outro livro dele e fala exatemente sobre o conflito entre celebridade e imortalidade… (o verdadeiro genio nunca é reconhecido em vida)…
enfim, um dia te empresto, risos
Oi Makely, vi o comentário desnecessário do Ricardo lá no Jaguadarte. Ele podia ao menos ter a dignidade de fazer a crítica aberta e assim promover uma discussão saudável, ao invés de ficar só nas insinuações veladas. A revista de vocês é muito bacana, não ligue para essas picuinhas e continuem produzindo.
Beijos
Júlia Guimarães
kkkkkkk!
quem diria! renato negrao, um morto-vivo!
viva o poeta morto!
Opa! Achei você, Makely…nem si se lembrarás de mim, mas …enfim…susto ao ler essa postagem! Hehehe.
OLá Makely!
Sempre horrorizo quando leio esse texto seu. Ele é muito bom! Parabéns escritor!
Gostei muito da homenagem q vcs fizeram a essa figura deliciosa Renato Negrão.
E adorei a linguagem contemporânea que a revista se propôs.
Vivas as Inquietações!
Um viva ao Negrão e outro viva pra Autofagia.
beijos,
Águeda Couto
* e a próxima?
Sobre o tal comentário velado do Ricardo Aleixo no blog dele, acho que um cara que se vende na cidade como não tendo “papas na língua”, fazer comentários velados sobre a revista e também sobre mim, acho que podemos tomar o dito, ou o desdito, como elogio.
Vale dizer que, como curador, o dito já me convidou um bom número de vezes para participar de seus eventos. Sendo assim tem-se a contradição ou tem-se um mal curador, o que não parece ser o caso.
Mas funciona a política do me elogie que te elogio e do me inclua sob a sua tutela. Sinto muito. Quem acompanha meu trabalho sabe de minhas principais referências. Belo Horizonte tem artístas com ótimas e singulares cartografias. O que é, sem dúvida,enriquecedor.
Viva o morto Negrão! Por total falta do que dizer e, ainda, megalomanicamente apaixonada pela poesia de vocês…
beijos, carol lara