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Código Aberto

Sei que a vida é um código aberto
É a mediação de um conflito
A morte está cada vez mais perto
E cada segundo é infinito
Beduíno cruzando um deserto
Uma prece no templo dos aflitos

Também sei que viver é perigoso
Nunca houve uma época segura
O perigo também é prazeroso
Não se pode viver é na paúra
Esse círculo é um tanto vicioso
E não sei se há antídoto ou cura

Esse lance que é dado a descoberto
Nos eleva a uma outra quadratura
Misturando a certeza com o incerto
Confundindo a razão com a loucura
Eu soletro as letras do alfabeto
E não vejo sentido na leitura

Sei que a vida é um rio caudaloso
Su a navegação uma aventura
Uns vivendo com a corda no pescoço
Outros na corda bamba de pendura
Não preciso ir ao fundo desse poço
Posso imaginar sua fundura

O sistema é orgânico e nervoso
A origem de toda criatura
Um estado entre o sólido e o gasoso
Variando com a temperatura
O maná corre fluído e viscoso
Se endurece e não perde a ternura

Uma língua falada em dialeto
Onde não fica o dito por não dito
A palavra é o próprio objeto
Como ícone, pedra, monolito
Não tem disse-me-disse é papo reto
Pra valer não precisa estar escrito

Um desenho na prancha do arquiteto
O projeto de estranhas estruturas
Não há piso, paredes e nem teto
Pé-direito de grande envergadura
Não há vigas na vida de concreto
Não há regras pra essa arquitetura

Mas se tudo é apenas um esboço
E o amor infinito enquanto dura
Entre inconseqüente e cauteloso
Vou levando uma vida sem usura
A tensão que antecede sempre o gozo
Será minha medida e urdidura

Versão prévia da canção que estará no meu próximo disco “Cavalo Motor”, em fase de gravação. É um martelo, uma estrutura métrica muito comum no Nordeste, com versos de dez sílabas acentuados necessariamente na terceira, na sexta e na décima. Nós herdamos o martelo, que é um decassílabo, da poesia ibérica. É uma estrutura tão comum e consolidada na tradição de língua portuguesa que basta lembrar por exemplo o monumental Os Lusíadas de Camões , todo escrito em decassílabos. Nesta faixa eu canto e toco violão e o Rodrigo Torino tocas a viola de 10 cordas.

Postado em 03/10/2010 Blog!

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Sobre o autor

Makely Ka (Valença do Piauí, 1975) é um poeta cantor, instrumentista, produtor cultural e compositor brasileiro. Makely é poeta, compositor e agitador cultural. Atuando em diversas áreas como a música, a poesia e o vídeo. Incorpora à sua produção artística um componente crítico e reflexivo. Autodidata, desenvolveu uma poética musical própria, amalgamando elementos da trova e do aboio de herança ibérica às novas linguagens sonoras urbanas como o rap, do despojamento da poesia marginal ao rigor formal da poesia concreta.

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