Ainda o senhor estude: agora mesmo, nestes dias de época, tem gente porfalando que o Diabo próprio parou, de passagem, no Andrequicé. Um Moço de fora, teria aparecido, e lá se louvou que, para aqui vir – normal, a cavalo, dum dia-e-meio – ele era capaz que só com uns vinte minutos bastava… porque costeava o Rio do Chico pelas cabeceiras! Ou, também, quem sabe – sem ofensas – não terá sido, por um exemplo, até mesmo o senhor quem se anunciou assim, quando passou por lá, por prazido divertimento engraçado? GSV
No “Grande Sertão: Veredas” as cidades de Sete Lagoas, Corinto e Curvelo representam os limites do sertão com o mundo civilizado. Andrequicé portanto é o último ponto de contato com a civilização antes de entrar no ambiente inóspito dos jagunços. A narrativa se passa no final do século XIX, fim da República Velha e a fazenda onde vive o narrador, na sua velhice, fica “um dia-e-meio a cavalo” da pequena cidade onde viveu um outro personagem rosiano famoso.
Chego em Andrequicé no meio da tarde. De Morro da Garça foram 75 Km cravados no odômetro. Fico na pensão da Dona Olga, sobrinha de Dona Didi, mulher de Manoelzão. Ela me conta que acompanhou o tio emprestado em suas viagens nos últimos anos, pois é enfermeira, e que ele a chamava de Barranqueira, porque a conheceu na Barra do Rio-de-Janeiro.
O Museu estava fechado e fui dar uma volta. Descobri que não há sinal de celular na cidade, muito menos rede de dados. Na verdade há um lugar, próximo da torre, no ponto mais alto, onde o sinal de uma única operadora chega fraco. Ficam várias pessoas sentadas no meio-fio, a maioria adolescentes, conversando com os namorados. E as conversas são geralmente em viva voz, ouve-se portanto as falas todas cruzadas. O meio-fio é a central telefônica dos telefones sem fio de Andrequicé.
Vou me deitar pensando se sigo direto para a Barra do Rio de Janeiro ou se mudo o roteiro e passo em Três Marias.
Makely, estou aqui acompanhando e admirando sua imersão no sertão grande. Viajei um pouco pela região, e a achei encantadora e não há como não sentir a presença dos personagens roseanos em suas paisagens. Excelente narrativa, envolvente e rica em informações. Vou seguindo a comitiva…