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Idas e vindas luso-brasileiras

Integrantes do Graveola (Luiz Gabriel é o segundo a partir da esquerda) em Portugal

Jornal O Tempo

Em maio deste ano, a caminho de um festival do qual iria participar na Itália, o Graveola e o Lixo Polifônico – expoente da nova cena musical em Minas – fez uma escala em Lisboa, onde conseguiu armar dois shows. Luiz Gabriel Lopes, violonista e vocalista da banda, diz que a receptividade foi não menos que impressionante. Tanto que ele resolveu ficar por mais alguns meses, estabeleceu parcerias, compôs músicas e voltou com um disco pronto, “Passando Portas”, cujo show de lançamento acontece amanhã, no Museu Inimá de Paula.
Essa experiência recente de Luiz Gabriel e do Graveola é mais um capítulo do profícuo diálogo musical que tem havido ao longo dos últimos três anos entre artistas mineiros e portugueses, e que aponta para a solidificação de um intercâmbio que abre portas para ambos os lados do Atlântico.

O canal de comunicação entre Minas e Portugal começou a ser aberto por Makely Ka, Vítor Santana e Gilberto Mauro, por ocasião das edições de 2007 e 2008 da Womex – feira mundial de música que é realizada anualmente em diferentes cidades europeias. Luiz Gabriel tributa a esses primeiros contatos a surpreendente receptividade que o Graveola teve em Portugal. Nossos shows lá foram impressionantes, tinha muita gente que já conhecia a banda, conhecia as músicas, pedia suas preferidas. Isso tem a ver com esse movimento de intercâmbio iniciado com o Makely, o Vítor e o Gilberto, e que envolveu mais efetivamente alguns artistas de lá, a Suzana Travassos e o João Pires”, diz, citando dois nomes que, desde 2008, passaram temporadas no Brasil, criando, fazendo shows, cavando espaço na cena local. João, aliás, participou ativamente de “Passando Portas”.

“Eu peguei a rebarba desse movimento que eles começaram, do qual foram a primeira geração. No início deste ano teve a turnê por Portugal do Antônio Loureiro, que viajou com vários músicos daqui. Foi uma segunda chegada lá. Numa dessas, alguém levou o CD do Graveola. A música brasileira tem um espaço gigantesco em Portugal, então esse é um contato que tem que ser consolidado”, diz Luiz Gabriel.

O fluxo, claro, é de mão dupla. João Pires está morando há sete meses em Belo Horizonte e nesse período já registrou marcante participação em “Beirute”, álbum de Vítor Santana lançado neste ano. Um diálogo de mesma intensidade se estabeleceu entre João e Luiz Gabriel, que resultou, além do disco, numa série de shows. A propósito, ambos retornam a Portugal em outubro, para outras apresentações.

“Desde que conheci o Vítor e o Makely na Womex, eu já os levei algumas vezes para Portugal. Na verdade, vários músicos de Belo Horizonte já passaram uma temporadas em Lisboa, hospedados na minha casa e da Suzana (Travassos), que também já ficou um tempo aqui em Belo Horizonte”, diz João, que, além de acompanhar Luiz Gabriel nos shows de “Passando Portas”, está trabalhando como diretor artístico de um álbum que está sendo produzido pela ONG Contato, dirigida por Vítor Santana. No próximo dia 7, ele vai apresentar, no Teatro da Biblioteca Pública Estadual, um show com músicas resultantes de parcerias com artistas locais.

AGENDA
O Que: Show de lançamento de “Passando Portas”, de Luiz Gabriel Lopes
Quando: Amanhã, às 20h
Onde: Museu Inimá de Paula (rua da Bahia, 1.201, centro)
Quanto: R$ 10

Identificação

Afinidade musical facilita o diálogo entre os artistas

Makely foi dos primeiros a estabelecer intercâmbio com Portugal

Desbravador das possibilidades de intercâmbio entre músicos mineiros e portugueses que tem havido, Makely Ka diz que um primeiro contato foi feito em 2007, e a consolidação desse incipiente diálogo se deu em 2008, em ambas as ocasiões por conta da Womex. Ele aponta que foi a partir daquela segunda ida que as parcerias começaram a frutificar. “Em 2008, fomos o Gilberto Mauro, o Vítor Santana e eu representando o Fórum da Música de Minas Gerais.

Conhecemos a Suzana Travassos, soubemos que ela tinha um trabalho com música brasileira e começamos a trocar figurinhas, saíamos, tocávamos à noite”, diz, acrescentando que Gilberto chegou a fazer um vídeo dessa temporada lusitana.

Ele conta que, a partir desse encontro com a cantora, foi estabelecido um núcleo a partir do qual as relações foram se ampliando. “A Suzana começou a tocar nossas músicas, e o João Pires, que era namorado dela e a acompanhava nos shows – é um instrumentista virtuoso –, começou a pegar nossas canções também. Rolou uma afinidade grande. Mais do que uma relação de parceria institucional, estabelecemos uma parceria musical e de amizade”, diz. Ele acabou por produzir um show de Suzana, no ano passado, no Sesc Pompeia, em São Paulo, e nesse processo a rede de contatos foi se ampliando.

“Esse fluxo abriu mais caminhos para a gente em Portugal. Fizemos um contato com o João Ventura, do Teatro de Portimão, na região de Algarve. Acabei indo me apresentar lá, dei uma oficina, depois o Antônio Loureiro esteve lá também, o Gilberto Mauro, a Maísa Moura. Estamos pensando em abrir um edital no próximo ano para manter esse canal fixo de intercâmbio”, projeta. “A Suzana veio outras vezes ao Brasil com parcerias consolidadas e está gravando um disco com músicas minhas, do Vítor, do Gilberto. As relações vão se fortalecendo”, completa.

Vítor Santana considera que esses contatos se estabeleceram e vão ficando cada vez mais fortes pela afinidade musical que há entre a música portuguesa e a de Minas, cuja universalidade ele destaca. “A Womex é uma feira de negócios, o que menos tem é música para se ouvir, mas essa turma, a gente conheceu mais numa onda de tocar mesmo, ir para a praça e ficar criando. Quebramos o paradigma e daí começou essa relação tão forte. Foi um momento mágico, que passou por essa coisa da conexão musical”, diz, destacando a parceria com João Pires.

“Eu o conheci no ano passado, iniciamos um diálogo, firmamos uma amizade muito forte e através dele conheci vários outros músicos portugueses. Hoje ele está hospedado na minha casa e tocando por aí, comigo, com o Tiago Delegado, com o Luiz Gabriel”, diz, ressaltando que, pelo interesse de Portugal pela música brasileira – o que João confirma –, o Graveola se integrou com facilidade nesse contexto de intercâmbio. Vítor, a propósito, planeja um turnê para lançamento de “Beirute” em Portugal no próximo ano.

Postado em 21/09/2010 Blog!

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Sobre o autor

Makely Ka (Valença do Piauí, 1975) é um poeta cantor, instrumentista, produtor cultural e compositor brasileiro. Makely é poeta, compositor e agitador cultural. Atuando em diversas áreas como a música, a poesia e o vídeo. Incorpora à sua produção artística um componente crítico e reflexivo. Autodidata, desenvolveu uma poética musical própria, amalgamando elementos da trova e do aboio de herança ibérica às novas linguagens sonoras urbanas como o rap, do despojamento da poesia marginal ao rigor formal da poesia concreta.

(2) respostas

  1. Renato Oliveira
    02/11/2012 de 19:30 · Responder

    Belo trabalho, fiquei encantado. Parabéns

    • makadm
      02/01/2013 de 14:36 · Responder

      Valeu Renato, seja bem-vindo sempre!

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