Estou aberto e fechado em sístole e diástole
Deserto e molhado como um cacto vermelho
Coberto e sem telhado como um homem e seu sombreiro
Certo e errado, sigo e arrenego esse sertão-cerrado
Estou avesso e vazado como um besouro escaravelho
No começo e tudo acabado como se tivesse nascido velho
Estou aceso e apagado como luz de candeeiro
Reto ou enviesado, eu brigo e desabrigo esse sertão-cerrado
Estou perto e muito afastado com uma estrela dentro do olho
Desperto mesmo desacordado percebo a força do seu brilho
Alerta meio desligado sou pai e sou filho
Roto e amarrotado, atrás do rastro desse sertão-cerrado
Rasgo vereda no peito montado em cavalo-motor
Risco sei que corro e não serei poupado
Visgo de seda no leito perfumado do amor
Estou ferido e curado, vivo e morro entre sertão-cerrado